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“Jesus Cristo é o Rosto da Misericórdia do Pai!”

“Jesus Cristo é o Rosto da Misericórdia do Pai!”

Com essas palavras, o Papa Francisco abre o texto da Bula de Proclamação do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia (08/12/2015 à 20/11/2016), intitulada Misericordiae Vultus, datada de 11 de abril de 2015.

Quando queremos dizer que uma pessoa é omissa ou falsa, dizemos assim: "Fulano de tal não tem coragem de mostrar o rosto". Ou ainda: "Um dia a máscara vai cair e ele vai mostrar o seu verdadeiro rosto". Por isso, depois de afirmar que "Jesus é o rosto da misericórdia do Pai", o Santo Padre acrescenta, explicando: "Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré" (Francisco, Papa. Misericordiae Vultus, § 1o).

Isso é semelhante ao trabalho de um tradutor. Pensemos, agora, na Bíblia. Foi escrita originalmente em Hebraico, Aramaico e Grego e bem mais tarde, foi traduzida para o Latim. A maioria de nós, infelizmente, não tem condições de fazer a leitura direta dos textos originais porque não conhecemos esses idiomas ou não possuímos o domínio de tais línguas. Se um tradutor, todavia, passa para o Português, então podemos ler fluentemente e meditar profundamente a Palavra de Deus. Aquilo que para nós estava oculto torna-se agora manifesto. Aquilo que era incompreensível e obscuro torna-se compreensível e claro.

Jesus, por assim dizer, é como que o tradutor da linguagem do Amor Misericordioso de Deus para a linguagem humana. Deixa-nos ver, através de Si, ao nosso modo, aquilo que pertence à essência mesma de Deus. E nós, cristãos, que somos misteriosamente unidos a Jesus pelo Batismo e pelos demais Sacramentos da Igreja, devemos também, fortalecidos pela Graça, esforçarmo-nos por traduzirmos o Amor de Deus em nossas vidas. Assim a mesma mensagem será proclamada em uma linguagem sempre nova, capaz de alcançar todas as mentes e todos os corações.

Essa é a tarefa dos cristãos: fazer que seja vista e compreendida por todos, ao modo de cada um, a Misericórdia do Pai. Por isso, disse o Senhor: "Vós sois o sal da terra". E a seguir: "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 13-14). Somos nós os responsáveis por fazer brilhar no mundo a mensagem viva do Evangelho! Que grande e nobre missão Jesus nos dá!

Ser santo, outra coisa não é, senão cumprir bem essa tarefa, isto é, deixar que a Graça de Deus toque nosso coração todos os dias e nos converta e que pouco a pouco, a nossa personalidade se vá conformando à de Jesus.

Certa vez, tive a oportunidade de assistir uma palestra de um Bispo da Diocese de Coimbra (Portugal), em que ele contava sua história vocacional. Num dado momento, ele disse: "Eu não tinha certeza se deveria estar ou não no Seminário. Só o que me importava era que Jesus fosse tudo em minha vida". Que maravilha!

Que desejo poderia ser mais belo e comovente do que este: que Jesus seja tudo em minha vida? "Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos e, se morremos, é para o Senhor que morremos" (Rm 14, 7-8).

Porém, outro detalhe é interessante. Vejamos: no Evangelho de São Marcos, no episódio do jovem rico que pergunta a Jesus o que deveria fazer para ser perfeito, lemos o seguinte: "Jesus, fitando-o, com amor, lhe disse..." (Mc 10,21).

Antes de dar a resposta ("vai, vende o que tens e dá aos pobres"), Jesus fitou-o (olhou-o) com amor. Este olhar de Jesus, ao mesmo tempo severo e cheio de ternura, pode não ser dirigido somente ao personagem do Evangelho, mas a cada um de nós em particular. Se Ele é o Rosto da Misericórdia, Seu olhar deve ser maravilhosamente misericordioso.

Quando o Senhor olhar assim para nós, para o nosso rosto, o que será que Ele vai encontrar? Uma máscara? Uma cara de esfinge? Uma face enigmática? Triste ou emburrada?

Não, meus irmãos! Não permitamos que isso aconteça. Deixemos que Jesus nos veja como nós realmente somos. Nos nossos rostos, resplandeça sempre mais a verdade! Nos momentos de alegria, não tenhamos vergonha ou receio de sorrir. Nos momentos de tristeza, não tenhamos medo de chorar, se preciso for. Sejamos sempre autênticos, sinceros no relacionamento com Deus e também com os nossos semelhantes.

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe e Porta da Misericórdia, que nos ajude a sermos bons católicos, misericordiosos como o Pai (cf. Lc 6,36)!

Ricardo Petroni Smiderle Passamani
Médico, Seminarista do Seminário
Arquidiocesano Nossa Senhora
da Penha e Graduando em Teologia
pelo Instituto de Filosofia e
Teologia da Arquidiocese de Vitória
do Espírito Santo (IFTAV)


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