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Reflexão: Deus é Misericórdia

Reflexão: Deus é Misericórdia

A Misericórdia em nossas vidas

Quando o Papa Francisco convocou-nos para o ano do Jubileu da Misericórdia, na verdade ele estava anunciando uma necessidade hodierna de experiência de Deus e querendo nos reconduzir até o âmago do coração de Deus, pois "Deus é amor" (I Jo 4,16b), conforme afirma São João em sua primeira carta, e não há como conceber o Amor sem a Misericórdia, pois são intrínsecos! Deus é Pai, Deus é Amor, Deus é Misericórdia!

Diante disso, cabe a nós fazermos eco ao pedido do Santo Padre e proclamar ao mundo: "Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso". (Lc 6, 36). Este foi o tema que eu escolhi para o nosso 21o Encontro de Marketing Católico que realizaremos de 9 a 12 de maio, na belíssima cidade de Gramado, Diocese de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, estado até então onde não havíamos realizado nenhum de nossos Encontros. Assim, adotando o mesmo contexto deste Ano Santo da Misericórdia, estaremos, como Igreja, refletindo e caminhando na mesma direção: rumo ao Coração Misericordioso de Deus.

Sabemos de nossas limitações para aprofundarmos sobre um tema tão importante e profundo, mas, ao mesmo tempo, temos ciência do poder da Misericórdia Divina que, por ação do Espírito Santo em nossos corações humanos e frágeis, nos permitirá, ao menos, experimentá-la e partilhá-la em nossas comunidades, a começar pelas famílias que, dia após dia, vêm sendo atacadas em todos os seus flancos. Foi esta também a intenção do Santo Padre ao convocar o Sínodo das Famílias: trazer à luz uma gama imensa de problemas enfrentados pelas famílias católicas nos tempos atuais. E, de uma forma ou de outra, derramar sobre todas elas a Misericórdia de Deus, bálsamo de amor capaz de curar ou amenizar tantas feridas. Uma reflexão que ainda durará um longo tempo, até amadurecer de uma maneira coerente com os ensinamentos de Jesus.

Como acolher a Misericórdia?

O tema da Misericórdia dominará todas as intenções neste ano. É desejo do Papa que a Igreja manifeste o seu rosto misericordioso e leve o mundo a experimentar esse caminho tão antigo e sempre tão novo.

Sabemos que ser misericordioso é não julgar as pessoas, pois a Misericórdia não julga os filhos e filhas de Deus e sim os resgata de suas misérias, pois assim nos disse Jesus: "Se alguém ouve minhas palavras e não as guarda, Eu não o condenarei, porque não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo." (Jo 12,47). Com esse contexto, a nossa comunicação deveria tomar outro rumo na transparência de relacionamentos. Sabemos, a partir de Jesus, que a Misericórdia nos leva à libertação e à salvação: "pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele." (Jo 3,17). A Misericórdia é extensiva a todas as criaturas e a todos os povos do mundo, indistintamente, como nos confirma o nosso primeiro Papa: "Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável aquele que O temer e fizer o que é justo." (At 10,31 – 35). Da mesma forma ela veio para incluir todos nós como herdeiros do Reino de Deus, como nos ensina São Paulo: "Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. Ora, se sois de Cristo, então dois verdadeiramente a descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa." (Gl 3,28 – 29).

A Misericórdia de Deus veio para nos aliviar e nos fazer felizes sempre, como disse Jesus: "Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas." (Mt 11,28 – 29).

A Misericórdia não se deixa deter por barreiras, limites ou qualquer outra força que for junto aos filhos e filhas de Deus, ao contrário, elas lhes abre totalmente os caminhos, ultrapassa possíveis obstáculos e permite-lhes o livre acesso ao Reino, como nos fala São Paulo: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor!" (Rm 8, 35. 37 – 39). A Misericórdia não nos exige nada em troca, pois é gratuita, espontânea e fruto da livre vontade de Deus: "Esta é a expressão mais simples que resume todo o Evangelho, toda a fé, toda a teologia: Deus nos ama com amor gratuito, e sem limites. É assim que Deus nos ama". (Papa Francisco no Angelus de 15/03/2015).

Enfim, a Misericórdia de Deus transborda generosidade de Seu Santíssimo Coração, e é derramada incessantemente sobre a humanidade, na esperança de que os corações humanos se abram para recebê-la e desfrutar de seus infinitos e incomensuráveis efeitos benéficos em suas vidas.

A Misericórdia Divina em nossas vidas

Quando nos abrimos à Misericórdia Divina, imediatamente ela passa a agir em nossas vidas, a começar pelo perdão de todas as nossas faltas, omissões e demais pecados. A Misericórdia provém do Coração (Cordis) amoroso de Deus e cobre totalmente as nossas misérias (Misere): "Miserecordis" poderia ser traduzida do latim como o Amor Misericordioso de Deus que cobre e apaga as nossas misérias, ou ainda "o coração de Deus que vem até à nossa miséria para nos salvar".

Com isso, ela nos liberta das correntes que nos prendem ao mal, nos escravizando aos vícios, aos pecados renitentes e reincidentes, e às demais más obras do maligno. Mal que gera tantas doenças físicas e psíquicas em nossas vidas. Este é o primeiro e grande benefício da ação misericordiosa de Deus em nossas vidas: as nossas curas e as nossas libertações! Depois, se permitirmos que ela continue agindo em nossos corações, ela começará a nos renovar espiritualmente ou nos permitir renascer, como disse Jesus a Nicodemos: "necessário vos é nascer de novo" (Jo, 3, 7b). A Misericórdia faz com que nasçamos de novo a partir da ação benigna do Espírito Santo em nossos corações: "quem não renascer da água e do Espírito Santo não poderá entrar no Reino de Deus!" (Jo 3, 5b). Sim, pela ação constante e perene da Misericórdia Divina passamos a nos tornar novas criaturas, como narra São Paulo em sua Carta aos Efésios: "Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." (Ef 4, 22 – 24).

Os dispensadores da Misericórdia

Nós, sacerdotes, somos naturalmente pelo Sacramento da Ordem, os dispensadores da Misericórdia Divina sobre os filhos e filhas de Deus. Somos os canais desta poderosa e benéfica Água Viva, que jorra incessantemente do coração de Deus para aplacar e erradicar os males que afligem os fiéis, particularmente pelo Sacramento da Confissão ou da Reconciliação. Porém, em todos os outros Sacramentos que nós ministramos, a Misericórdia de Deus se faz presente nos corações de todos aqueles que se abrem sinceramente para recebê-la. Entretanto, todos os batizados, por sua vez, podem (e devem) ser os propagadores da Misericórdia Divina pelo mundo, sendo, uns para com os outros, Misericordiosos como o Pai o é!

Quando agimos com Misericórdia para com o próximo, na verdade estamos sendo também canais da Misericórdia Divina que está presente em nossos corações! Portanto, todos, sem exceção, somos canais desta graça única e santificante que nos é dada em abundância e gratuitamente pelo Pai, para que, vivendo-a nesta vida terrena, já possamos implantar e experimentar o Reino de Deus aqui na Terra. Esta é a vontade de Deus para todos nós, sem exceção, e o objetivo final deste nosso 21o Encontro de Marketing Católico, onde estaremos meditando, refletindo e aplicando a Misericórdia Divina entre nós!

Dom Orani João
Cardeal Tempesta,
O. Cist. Presidente do IBMC


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