Nasceu-nos um Menino e nos foi dado um Filho (Is 9,6) Por que é que o Filho de Deus veio à terra? Para dar-se a nós.
É isso que nos assegura Isaías: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Eis a que ponto esse terno Senhor se deixou levar por nosso amor e pelo desejo que tem de ser amado por nós!
De vários modos tinha Deus procurado cativar-se os corações dos homens, ora com benefícios, ora com ameaças, ora com promessas, sem todavia conseguir seu intento. Enfim o seu amor infinito, diz S. Agostinho, o fez achar na encarnação do Verbo o meio de dar-se inteiramente a nós, para assim nos obrigar a o amarmos de todo o coração. Ele poderia encarregar um anjo ou um serafim de resgatar o homem; mas se fosse este resgatado por um serafim deveria dividir o seu coração, dando uma parte de seu amor a seu Criador e outra parte a seu redentor; por isso Deus, que queria só para si todo o coração e todo o amor do homem, não contente de ser nosso Criador, diz um piedoso escritor, quis fazer-se também nosso Redentor.
E ei-lo descido do céu a um estábulo; ei-lo criancinha, nascido por nós e feito todo nosso: nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. É precisamente isso que o anjo quis dar a entender quando disse aos pastores: Nasceu-vos hoje um Salvador; — como se dissesse: Ó homens, ide à gruta de Belém, e adorai o Menino que lá achareis deitado sobre palha, num presépio, tremendo de frio e chorando; sabei que é o vosso Deus; não quis mandar um outro para salvar-vos, mas quis vir em pessoa a fim de obterassim todo o vosso amor.
Sim, foi para se fazer amar que o Verbo Eterno desceu à terra e que, segundo a profecia, conversou com os homens.
Quão grande, pois é o afeto desse supremo Senhor a nós miseráveis vermes! Alegra-se em dar-se todo a nós, nascendo por nós, vivendo por nós, morrendo mesmo por nós, a fim de preparar-nos em seu sangue derramado até a última gota, um banho salutar que nos purifica de todos os nossos pecados.
Sim, exclama S. João, ele nos amou e nos lavou de nossos pecados em seu próprio sangue.
Jesus se encarnou por nós!
Na obra da Encarnação foi necessária a onipotência e a sabedoria infinita dum Deus, para fazer que a natureza humana se unisse a uma pessoa divina, e que uma pessoa divina se humilhasse até tomar a natureza humana.
Assim, Deus fez-se homem, e o homem tornou-se Deus; e estando a divindade do Verbo unida à alma e ao corpo de Jesus Cristo, todas as ações desse Homem-Deus foram divinas; divinas foram suas preces, divinos os seus sofrimentos, divinos seus prantos, divinas as suas lágrimas, divinos os seus passos, divinos os seus membros, divino o seu sangue, esse sangue do qual queria fazer um banho de salvação para nos purificar de todos os nossos pecados, e um sacrifício de valor infinito.
Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho para resgatar os que estavam sob o jugo da lei. Essa expressão marca a plenitude da graça que o Filho de Deus veio comunicar aos homens pela redenção.
O anjo é enviado como embaixador na cidade de Nazaré à Virgem Maria para lhe anunciar a vinda do Verbo, que quer encarnar-se em seu seio.
O anjo a saúda chamando-a Cheia de graça e Bendita entre as mulheres.
Ouvindo esses louvores a humilde Virgem, escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, perturba-se em sua profunda humildade; mas o anjo a anima e diz-lhe ter ela achado graça junto de Deus, isto é, aquela graça da qual resultaria a paz entre Deus e os homens, e a reparação das ruínas devidas ao pecado.
Revela-lhe depois o nome de Jesus ou Salvador, que deve dar a seu Filho, e acrescenta que esse Filho é o próprio Filho de Deus, que deve resgatar o mundo e assim reinar sobre os corações dos homens.
Enfim Maria consente em ser a Mãe de tão nobre filho:
Faça-se em mim segundo a vossa palavra; e ao mesmo instante o Verbo eterno se faz carne e torna-se homem: E o Verbo se fez carne!
Rendamos graças a esse Filho e também a essa Mãe que, consentindo em ser a Mãe de tal Filho, consente em ser a Mãe de nossa salvação e por isso mesmo uma Mãe de dores: desde então ela se resigna a ser mergulhada num abismo de dores.
Ó Verbo divino feito homem por mim, embora vos veja tão humilhado e feito criança no seio de Maria, confessovos e reconheço-vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de amor. Meu caro Salvador, já que viestes a este mundo revestir-vos da nossa miserável carne para reinar sobre os nossos corações, vinde estabelecer o vosso reino também no meu coração sujeito outrora ao domínio dos vossos inimigos, mas que agora é vosso, como espero; quero que seja ele sempre vosso e que vós sejais de hoje em diante o seu único Senhor: Reinai no meio de vossos inimigos. Os outros reis reinam pela força das armas; vós ao contrário vindes reinar pela força do amor, por isso não vindes com pompas reais, não vindes revestido de púrpura e ouro, ornado de cetro e coroa nem rodeado de exércitos de soldados. Nasceis num estábulo, pobre, abandonado e sereis colocado num presépio sobre um pouco de palha, porque assim quereis começar a reinar sobre os corações.
Ah meu Rei Infante, como pude revoltar-me tantas vezes contra vós, e viver tanto tempo na vossa inimizade, na privação da vossa graça, quando vós para obrigar-me a amar-vos depusestes a vossa majestade divina e vos humilhastes tanto que tomastes a forma duma criança numa gruta, depois a dum operário numa oficina, e, enfim, a dum condenado na cruz? Oh! Feliz de mim se agora que saí, como espero, da escravidão de Lúcifer, me deixar dominar sempre por vós e por vosso amor! Ó Jesus, meu Rei, que sois tão amável e que amais tanto as almas, tomai posse de toda a minha alma, eu vo-la dou sem reserva. Aceitai que ela vos sirva sempre e que vos sirva por amor: a vossa majestade merece ser temida, mas a vossa bondade merece ainda mais ser amada. Ó meu Rei, vós sois e sereis para sempre o meu único amor; e o único temor que terei será o de desgostar-vos.
Assim o espero.
Ajudai-me com a vossa graça. Minha amada Soberana, Maria, vós haveis de obter-me a graça de ser fiel a esse Rei querido de minha alma.
Desejo a todos um Feliz e Santo
Natal do Senhor Jesus!
Padre Tiago Roney Sancio
Vigário Paroquial
Revista Fraternidade - 3º e 4º Trimestres de 2015
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