A Virgem Maria é aquela que na Santa Igreja ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós[1].
Qual deve ser o comportamento ou o fruto de nossa devoção à Santíssima Virgem Maria? A resposta que podemos dar é a imitação de suas virtudes em primeiro lugar. Sem esta imitação, segundo a afirmação de alguns santos, não podemos ter verdadeira devoção à Maria Santíssima. Enganar-se-ia grandemente quem julgar-se fazer muito, recorrendo a Maria sem procurar espelhar-se nela.
É preciso imitar a sua humildade e suas outras virtudes. Sem isto, sempre se deve julgar que nada se tem feito, pois a verdadeira prova de amor que podemos dar a alguém é a fidelidade e a atenção a tudo o que o amado nos ensina. Maria deu uma ordem que pode santificar qualquer pessoa: “Façam tudo o que Jesus vos disser” (Jo 2, 5). Se imitarmos a ela, iremos ouvir cada palavra dita a nós pelo Salvador nos Evangelhos, procurando com todas as forças “guardar no coração” (Lc 2, 19) e “colocar em prática o que ouvimos” (Mt 28, 20)
Imitar a Maria é nunca perder de vista o nosso fim último (o céu), procurando aplicar-se nas práticas virtuosas, nas quais ela mesma nos deu o exemplo: O serviço da Caridade para com o próximo (Lc 1, 39), a prática da Oração que denunciava sua fé inabalável (At 1, 14), a Escuta da Palavra que demonstra seu terno amor a Jesus Cristo (Lc 2, 19) e viver em estado de Humildade profunda (Lc 1, 38), procurando sempre ser submisso à vontade de Deus em uma vida simples e silenciosa.
Celebrar a memória da Virgem Maria em todo o tempo litúrgico e lugar, não é para a Igreja um momento de despertar nos batizados uma estéril admiração, mas é uma pedagogia que procura conduzir-nos à prática das virtudes heroicas que a Mãe de Deus nos deu como exemplo.
Nossa Senhora elevou o ordinário da vida humana ao mais alto grau de perfeição, porque procurou conservar a força do Espírito Santo de Deus que estava sobre ela.
O Evangelista São Lucas nos apresenta dois fatos importantes sobre a vida de Maria: o primeiro que o Senhor estava sempre com ela (1, 28); e o segundo, que o Espírito Santo desceria sobre ela, e o poder do Altíssimo a cobriria com sua glória (1, 35). Nós também, pela graça do Batismo, somos envolvidos pelo “poder do Altíssimo” e nos tornamos “membros do Corpo místico de Cristo”, por isso, no ordinário de nossa vida somos convidados a imitar as atitudes da Mãe do Senhor – no qual pertencemos por herança batismal – para alcançarmos a coroa da justiça (II Tm 4, 8). Ela é incomparável a nós, por causa de sua pureza, onde jamais conheceu o pecado (Gn 3, 15), por motivo de sua missão de ser a mãe do Verbo (Jo 1, 14). Porém, em sua fé e vida, por ser criatura de Deus, é igual a nós em tudo, podendo assim ser modelo de fiel seguimento a Cristo para cada pessoa de fé.
Maria mostrou a sua humildade, apesar de sua tão elevada dignidade. Teve o cuidado de deixar escondidos no silêncio de sua casa os dons magníficos de Deus. A vizinhança da casa de Nazaré jamais ficou sabendo pela boca dela que seu amado Filho era Deus; que seu esposo São José era um homem casto, e, que ambos ouviram a voz do Arcanjo Gabriel. E, tão pouco sabemos os detalhes de como fora os três meses de serviços prestados por Maria na casa de Zacarias antes do nascimento de João.
Enfim, Nossa Senhora se esforçou por viver sempre uma vida oculta, fugindo de tudo aquilo que pudesse atrair-lhe elogios. Até mesmo Jesus procurou deixar a sua santa mãe protegida do orgulho social, quando disse a uma mulher que “levantou a voz no meio da multidão e exclamou: “Feliz o ventre que te trouxe ao mundo e os seios que te amamentaram”. Jesus de imediato respondeu: “Felizes, mais ainda, são os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática” (cf. Lc 11, 27-28). Santo Agostinho nos diz que nesta passagem bíblica a Virgem Maria foi louvada por Jesus duplamente porque foi apresentada como aquela que primeiro acreditou, depois gerou-o e continuou ouvindo a Deus, guardando a palavra em seu coração (Lc 2, 19).
A Virgem Maria não ignorou a grandeza dos privilégios com que fora enriquecida, porque no seu hino a Deus ela disse: Minh’alma engrandece ao Senhor, e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador... que fez em mim grandes coisas (Lc 1, 47.49). Porém, não deixou de ter humílimos sentimentos de si mesma, tendo sempre os olhares fitos no seu nada, não se lembrando das graças de Deus, senão para glorifica-lO e nunca se prevalecendo disto para colocar-se acima dos outros.
À luz dos poucos versículos dedicados à vida da Virgem Maria na Bíblia, vemos que sua humildade lhe mereceu a honra de ser escolhida para a Mãe de Deus, e, em seguida, elevada acima de todas as criaturas. No século XX Igreja procurou colocar no Concílio Vaticano II, cinco importantes cabeçalhos para a sua Doutrina sobre a Virgem Maria que não devemos esquecer, se quisermos meditar sobre sua missão na vida do povo de Deus: I) O papel da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no Mistério de Cristo e da Igreja. II) O papel da bem-aventurada Virgem na economia da salvação. III) A bem-aventurada Virgem e a Igreja. IV) A devoção à bem-aventurada Virgem Maria na Igreja. V) Maria, sinal de esperança e consolo para o povo de Deus em peregrinação. Com estes títulos vemos que a Mãe de Deus não é um tema sem importância e interesse para o cristianismo moderno. A Igreja procurou mostrar que sua admiração, emotiva e fervorosa, se esforça para tirar dos conceitos humanos adequadas afirmações, afim de aplicar ao Mistério da Salvação, procurando dar a conhecê-lo aos homens.
José Wilson Fabrício da Silva, crl
Cônego Regular Lateranense
Membro da Academia Marial
Bibliografia:
VATICANO II. Mensagens, Discursos e Documentos. 2ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
COYLE, Kathleen. Maria tão plena de Deus e tão nossa. São Paulo: Paulus, 2012. págs. 46-47.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB. Brasília: Edições CNBB, 2012.
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